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quinta-feira, abril 25, 2024
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Pandemia, retomada da temporada e mudanças na regra: a situação dos árbitros de futebol

No começo do mês de agosto está prevista a retomada das competições nacionais. Foram pouco mais de 4 meses sem a realização de nenhuma partida ou competição nacional, por conta da pandemia de Covid-19.

 

Nesse período, muito se discutiu e falou a respeito da situação dos clubes e jogadores. Porém, pouco ou quase nada foi falado a respeito da situação dos árbitros de futebol. O Esporte Goiano então consultou as entidades responsáveis pela arbitragem no estado de Goiás.

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O futebol goiano possui um total de 134 árbitros e, destes, 24 estão aptos a atuar em partidas de competições com chancela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os presidentes do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de Goiás (SAFEGO), Luciano Joka, e da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol de Goiás (CEAF/GO), Júlio César Mota, relataram como foi o suporte à categoria nos quatro meses de paralisação.

De acordo com Joka, o SAFEGO, que é um sindicato filiado à Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF), prestou, dentro das limitações, auxílio aos profissionais de arbitragem no período sem futebol.

“O SAFEGO, dentro de suas limitações, criou um gabinete social, com membros associados que se dispuseram a auxiliar no trabalho de ouvir os árbitros e identificar necessidades. Ao mesmo tempo, buscou parceiros para doações de cestas básicas, produtos de higiene e, na medida do possível, valores financeiros para amparar aqueles que apresentaram dificuldades neste momento, resguardando o sigilo e sem expô-los”, declarou.

A CEAF/GO, conforme explica Júlio César Mota, ofereceu suporte no pilar técnico, físico e mental. Houve trabalhos específicos voltados para cada uma dessas áreas, inclusive com participação de especialistas.

“Durante esse período os árbitros realizaram alguns testes, participaram de vídeo-aulas e vídeo-testes, no que diz respeito ao pilar técnico. Já no pilar físico, o professor Gustavo Almeida atendeu cada profissional, individualmente; de tal maneira que o pessoal fazia as atividades prescritas e repassava ao professor os resultados coletados. Também, fizemos o acompanhamento no pilar mental, por meio da doutora Marta Magalhães, psicóloga da arbitragem da CBF; com a ajuda das profissionais da área que trabalham conosco, realizaram um trabalho com os chamados grupos de pertencimento”, relatou.

Sobrevivendo à pandemia

O calendário das competições nacionais será retomado em breve, após pouco mais de 4 meses de paralisação. O Esporte Goiano ouviu três árbitros goianos sobre a rotina sem futebol.

Foto: André Borges/CBF

Aos 40 anos de idade, o assistente quadro FIFA,  Fabrício Vilarinho da Silva trabalhou em 35 jogos da CBF em 2019. Foram 24 pelo Brasileirão – sendo um como AVAR -, um pela Série B, sete na Copa do Brasil, dois da Série D e um pela Série C.

Em entrevista ao EG, o profissional relatou como foi lidar com a ausência do futebol e manter a saúde mental.

“Primeiro tive total suporte familiar. Tivemos todo apoio das instituições. A CBF e FGF possuem psicólogas que mantiveram atividades via aplicativos além de literatura específica do pilar mental. Fiz vários cursos online e li muitos livros. Lógico que a atmosfera da partida é algo mágico porém somos prestadores de serviço, ou seja, sem jogos, sem renda! Essa ansiedade tivemos que superar e manter o equilíbrio mental”, disse.

Fabrício Vilarinho conseguiu manter o condicionamento físico em dia, com o auxílio da Comissão Estadual e Nacional de Arbitragem.

“A maioria dos treinos fiz em casa, respeitei as orientações governamentais do distanciamento social. Os treinamentos foram realizados seguindo à risca as planilhas físicas da FGF (prof. Gustavo Almeida), da CBF (prof. Paulo Camelo) e da Conmebol/FIFA (prof. Sílvio Aguinaga). Mantive um rigoroso controle nutricional. Até perdi peso nessa quarentena e agora com a liberação do decreto para as academias vou intensificar ainda mais o ritmo, pois a volta dos campeonatos nacionais já tem data marcada”, afirmou.

Foto: André Borges/CBF

Bruno Raphael Pires, 34 anos, assistente do quadro FIFA, trabalhou em 27 partidas da CBF na temporada de 2019. Foram 19 jogos pelo Brasileirão – sendo um como AVAR -, um na Série B, dois da Série D e cinco pela Copa do Brasil.

O árbitro assistente falou como fez para lidar com a ausência do futebol e manter a saúde mental.

“Mesmo com a ansiedade pela volta dos jogos sempre procurei ocupar a mente e realizar atividades que, quando estamos com as rotinas de viagem, muitas vezes ficam difíceis de realizar: tempo com maior qualidade para família, alguns cursos online relacionados ao meu trabalho na Secretaria de Saúde, além dos trabalhos e cursos voltados para arbitragem”, disse.

Bruno Pires revelou que cuidou do seu condicionamento físico, em um primeiro momento sozinho, mas depois passou a contar com a companhia dos colegas de arbitragem.

“No início, estava realizando treinamentos funcionais e correndo em uma praça ao lado de casa. Depois conseguimos – Wilton Sampaio, Fabrício Vilarinho e eu -; um apoio e parceria com a ASSEGO (Associação dos Subtenentes e Sargentos do Estado de Goiás), através do amigo, Paulo César Almeida, que também é árbitro. Então, passamos a realizar nossos treinamentos na ASSEGO, respeitando todas as medidas preventivas necessárias. A ASSEGO conta com uma ótima estrutura e nos proporcionava todas as condições para realização dos treinamentos que sempre eram prescritos pelo professor Gustavo Almeida, profissional de Educação Física da FGF”, relatou.

Foto: Miguel Locatelli/Athletico PR

André Luiz de Freitas Castro, árbitro da categoria MASTER, trabalhou em 35 partidas da CBF na temporada de 2019. Foram 22 jogos pelo Brasileirão – sendo 10 como VAR e 8 AVAR -, quatro pela Série B, um pela Série C, sete pela Copa do Brasil e uma pela Copa Verde.

 

O profissional revelou como fez para lidar com o isolamento social e, claro, cuidar da saúde mental.

“Ficar em casa esse tempo todo não é nada fácil. Tanto eu quanto a minha esposa começamos a trabalhar online em casa. A palavra chave foi adaptação, resiliência, calma para esperar as coisas passarem. Bons filmes e boas séries. Mas a cabeça está boa, sem se envolver muito com noticiários, e, principalmente, com notícias falsas”, disse.

Aos 46 anos, André Luiz Castro que é um dos árbitros mais experientes do quadro da CBF, relatou como fez para manter a parte física em dia: “Por incrível que pareça o aspecto físico, pelo que converso com alguns amigos e colegas, foi diferente nessa quarentena. Pois estando ‘preso em casa’, tivemos mais tempo de cuidar. Eu sempre procurei cuidar bem do meu corpo. Então, continuei fazendo diariamente uma atividade física que é correr na rua de madrugada. Já a parte de lapidação do CORE e fortalecimento, principalmente, dos membros inferiores fiz em casa”.

Suporte financeiro da CBF

No futebol brasileiro, os profissionais de arbitragem só ganham dinheiro quando estão trabalhando. Ou seja, recebem por partidas apitadas. Como dependem de ser sorteados pela federação, em alguns casos, pode ser que um árbitro passe todo um mês sem ser remunerado.

Em virtude disso, nesse período de pandemia a CBF concedeu um auxílio financeiro diretamente aos árbitros e assistentes que pertencem ao quadro nacional, em função da paralisação do futebol no Brasil.

Segundo os árbitros, houve a antecipação de 3 taxas de partidas referente aos meses de abril, maio e junho. Além disso, a CBF fez dessa antecipação uma doação a todos os árbitros do quadro da instituição. Na opinião dos profissionais de arbitragem do futebol goiano, a ação promovida pela CBF e a Comissão Nacional de Arbitragem, deve ser parabenizada e reconhecida como “um marco para a classe arbitral”.

As novidades na regra do jogo

O futebol será retomado com uma série de modificações nas regras do jogo (clique aqui e confira), que foram promovidas pela International Football Association Board (IFAB) – órgão responsável pela regulamentação das regras do esporte desde 1886, sendo anterior à própria FIFA, criada em 1904.

O conhecimento e o entendimento da regras do futebol e das atualizações, constituem um instrumento fundamental de formação e aprimoramento para os profissionais da arbitragem e de informação para todos os que acompanham o esporte.

Por isso, nesse período os árbitros participaram de inúmeros cursos e palestras de atualizações tanto da CBF quanto da Conmebol e da FIFA. De acordo com os entrevistados, foram momentos não só voltados para alterações na regra. Mas, também para aproximação de critérios da arbitragem, a fim de que os profissionais possam estar prontos quando reiniciarem as competições.

Nesse sentido, André Luiz Castro ressaltou que o único problema da arbitragem brasileira será o ritmo de jogo: “Pela primeira vez fizemos uma pré-temporada online. Desde o mês de abril, a CBF vem nos abastecendo através do portal, no qual cada árbitro tem um acesso individual, com vídeos, orientações sobre as mudanças na regra. Então, acredito que o único problema tanto da arbitragem quanto dos jogadores será o ritmo de jogo”.

Segundo André, a capacitação oferecida em 2020 pela Comissão Nacional de Arbitragem foi melhor que nas temporadas passadas.

 

VAR Brasil

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O sistema do árbitro assistente de vídeo, mais conhecido como VAR (na sigla original em inglês), começou a ser utilizado em competições da CBF nas quartas de final da Copa do Brasil de 2018, no duelo entre Santos e Cruzeiro.

O uso do VAR tem como lema “interferência mínima, benefício máximo”. A utilização da tecnologia visa diminuir erros claros nas seguintes situações: gol/não gol; identificação equivocada; penalidade/sem penalidade e cartão vermelho direto.

Em 2019, a Série A do Brasileirão foi o primeiro campeonato da América do Sul a adotar o VAR. A tecnologia foi utilizada nas 380 partidas da primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O árbitro Wilton Pereira Sampaio, da FGF, é apontado como referência na utilização da tecnologia. O profissional de 39 anos de idade, foi um dos 13 árbitros escolhidos pela Fifa para trabalhar no VAR durante a Copa do Mundo de 2018, disputada na Rússia.

Os colegas de profissão de Wilton Pereira Sampaio, comentaram a respeito do uso da tecnologia no futebol e como isso impactou a atuação da arbitragem dentro de campo.

“Como todo projeto o VAR precisa evoluir em muitos aspectos. Mas isso será possível com a prática, quanto mais oportunidades maior será o avanço. Para uma primeira temporada e justamente na principal divisão do futebol brasileiro o VAR cumpriu com excelência sua função: legitimar o resultado da partida.
Em relação a mudança no trabalho do árbitro no campo de jogo tivemos que adaptar nossa metodologia de trabalho sem perder nossa essência que é tomar a decisão. Por protocolo em alguns lances temos que esperar a conclusão da jogada para tomar a decisão, assim, caso seja equivocada, o VAR poderá corrigir”, afirmou Bruno Pires.
Foto: Fernando Torres / CBF
“O VAR é uma ferramenta eficaz para o futebol, pois mantêm a justiça e a legitimidade do resultado. Somos imperfeitos apesar das duras cobranças. Existem situações em campo que é extremamente difícil uma decisão precisa. Hoje brigamos com os milímetros. O VAR é uma tecnologia sem volta. Sou favorável que cada vez mais os recursos tecnológicos sejam inseridos no futebol.
Para nós dentro de campo houve algumas adaptações em respeito aos protocolos do uso do VAR. Porém sem prejuízo em nenhum aspecto. A CBF e a Conmebol sempre oferecem cursos de aprimoramento tecnológico para os árbitros. Esse treinamento é essencial”, declarou Fabrício Vilarinho.
Foto: Lucas Figueiredo/CBF
“O VAR no ano passado foi muito questionado, mas tem que lembrar que essa tecnologia foi uma grande novidade para todos. No começo do campeonato tinha muita interferência em lance de interpretação. Mas no fim da competição já houve melhora nisso. Então, é uma coisa que a gente tem de ser justo. Em 2019 não vimos lances de gol marcado em posição de impedimento, gol mal anulado, gol de mão, pênalti marcado fora da área. Se formos prestar atenção, até os próprios jogadores começaram a entender que tudo estava sendo checado.
Neste ano, antes da pandemia, fizemos uma pré-temporada  com bastante instrução sobre o VAR. Há cerca de duas semanas, tivemos dois treinamentos online com instrutores da FIFA de orientações sobre a tecnologia. A tendência para 2020 é que seja bem melhor que o ano passado, pois estamos mais cascudos. A gente tem que lapidar para que demore menos na análise de alguns lances.
O árbitro dentro do campo, querendo ou não, se sentiu mais seguro. Ele sabe que não vai decidir mais o resultado de uma partida com um erro de arbitragem, igual aconteceu, de forma injusta, nos outros anos. Tenho certeza que o futebol ficou mais justo.
E o árbitro tem que apitar o jogo como se não existisse o VAR. O VAR dele é o plano de saúde, tem ele pra não usar. Mas se no caso for preciso usar, ele esta lá”, analisou André Luiz Castro.

A temporada de 2020…

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Sem dúvidas, o ano de 2020 ficará marcado na história da humanidade e do esporte: pelo enfrentamento há meses de uma pandemia de coronavírus e as inúmeras adaptações realizadas para a prática do futebol.

Por influência deste cenário, a CBF elaborou uma Diretriz Técnica Operacional para Retorno das Competições (clique aqui para conferir).

O documento de 60 páginas regulamenta os conceitos definidos pelo Guia Médico de Sugestões Protetoras para Retorno às Atividades do Futebol Brasileiro (clique aqui e confira); e tem por objetivo: informar e esclarecer sobre os protocolos que devem ser usados ​​nas competições organizadas pela CBF, incluindo os detalhes da operação das partidas.

Em Goiás, o SAFEGO com o apoio da FGF realizou a testagem de Covid-19, do quadro de árbitros associados a entidade. O objetivo é identificar os profissionais que contraíram o novo coronavírus, mesmo assintomáticos.

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Ildeu Iussef
Jornalista em formação (UFG). Produtor dos Programas Esportivos da Rádio Universitária UFG 870 AM. Amante do Esporte!
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