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quinta-feira, março 28, 2024
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Goiânia Rednecks supera adversidades e é orgulho para Goiás no futebol americano

Sem patrocínio e com pouca estrutura, 'caipiras" demonstraram amor pela bola oval e chegaram aos playoffs da Superliga Nacional da modalidade

Há dez anos atrás, eram poucos aqueles que sabiam algo sobre futebol americano no Brasil. Futebol no nosso país sempre foi o da bola redonda. Contudo, hoje, o cenário é outro. A National Football League (NFL), liga de futebol americano dos Estados Unidos, é campeã de audiência no noticiário esportivo. Indubitavelmente, a modalidade começa a fazer parte do cotidiano de muitos brasileiros.

Muitos goianos também se renderam ao apaixonante futebol americano. Mais do que isso, criaram um time de sucesso. A equipe, mesmo longe dos salários milionários da NFL, mostra o que o amor pelo esporte pode fazer.

Fundado em 2010 por um grupo de amigos, o Goiânia Rednecks é um time de futebol americano que começou sua trajetória no mundo do esporte na modalidade Flag Football, na qual não há contato físico entre os atletas. O termo Rednecks, em tradução livre do inglês, quer dizer “pescoços vermelhos”. Nos Estados Unidos, a terminologia é utilizada pejorativamente para se referir aos “caipiras”, que têm a nuca avermelhada por conta da exposição ao sol no trabalho rural. Hoje, com orgulho de representar o “caipira” estado de Goiás, o time integra a Superliga Nacional de Futebol Americano.

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Contudo, para chegar à principal competição do esporte no Brasil, os Rednecks enfrentaram muitos percalços. O primeiro dos obstáculos para os guerreiros do futebol americano é o local para treinos. Com quatro treinamentos semanais, o time precisou recorrer aos favores. Inicialmente, na época que ainda atuava no Flag, alguns jogadores disponibilizavam as quadras de seus edifícios ou casas para a preparação. Praças e parques públicos também receberam treinos da equipe.

Equipe dos Rednecks utilizou a estrutura do Goiás por um período.(Foto: cortesia)

Para deixar de ser nômade e aprimorar o rendimento em campo, o Goiânia Rednecks procurou parcerias. Em 2014, o Goiás Esporte Clube cedeu a estrutura da Serrinha para os treinos do time. Com a preparação em dia, os “caipiras” foram vice-campeões do Cerrado Bowl, disputado contra times de Brasília. À época, o jogo do time contra o Brasília Alligators recebeu mais de 2 mil torcedores, maior público de sua história. Atualmente, os Rednecks dividem a maioria dos treinos entre os clubes da Associação dos Empregados do Banco do Estado de Goiás (Asbeg) e da Telegoiás.

As finanças também causam preocupação. Sem patrocínio, o dinheiro que mantém o time vem dos bolsos dos próprios jogadores. “Essa é nossa maior dificuldade. Tudo se dá por conta dos atletas”, relata Danilo Freitas, jogador e diretor de comunicação dos Rednecks. Por ser um esporte internacional e ainda pouco praticado no Brasil, o futebol americano é de alto custo. “Todo equipamento é importado”, diz Freitas.

Esforço recompensado

O futebol americano é um esporte em ascensão não apenas no Brasil, mas também no mundo. Estima-se que 160 milhões de pessoas assistiram ao último Super Bowl  – final da liga de futebol americano dos Estados Unidos – em todo o globo. O evento é o terceiro mais visto no mundo dos esportes, atrás apenas da Copa do Mundo de futebol e também das Olimpíadas. No Brasil, 4,3 milhões de pessoas acompanham assiduamente a temporada da liga de futebol americano dos EUA, a National Football League. Os números são da ESPN, emissora que detém os direitos de transmissão do campeonato norte-americano.

O crescimento em território brasileiro é seguido pelo aumento do número de clubes. A Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) tem 31 na modalidade Fullpad, a principal da bola oval. Há três anos, o número não passava de dez. Um dos times que entrou na onda do Fullpad, o Goiânia Rednecks contou com o apoio do Goiânia Tigres e os Guarás, que se juntaram aos “caipiras” para que o time pudesse disputar a principal liga do esporte no Brasil.

Derrota de 31 x 10 para o Cuiabá Arsenal eliminou Rednecks da Superliga.(Junior Martins/Arsenal)

Mesmo com as dificuldades constantemente relatadas, os atletas preferem ressaltar o amor pelo futebol americano. “É apaixonante”, diz Carlos Paiva. “Nosso time é amizade, somos irmãos”, completa Felipe Santiago.

Com o espírito batalhador que os forjou, os Rednecks fizeram história. Mesmo com as adversidades, o time de Goiânia chegou aos playoffs da Superliga Nacional após uma surpreendente temporada. Os “caipiras” ficaram atrás apenas do poderoso Cuiabá Arsenal e dos Tubarões do Cerrado no Grupo A da Conferência Oeste da liga. Nos playoffs, porém, mais uma nova derrota para os mato-grossenses pôs fim ao sonho de título do time goianiense. Nada que abale o amor pela bola oval.

Foco nas mulheres

Futebol americano também é coisa de mulher. Criado pelas namoradas dos atletas dos Rednecks, o GoRednecks é o time feminino de Flag Football dos “caipiras”. Cansadas de apenas acompanhar os treinamentos, que duram cerca de três horas, dos namorados e atletas do time masculino, as meninas resolveram se unir e formar sua própria equipe no mês de fevereiro de 2016.

Equipe do GoRednecks após treino.(Cortesia/GoRednecks)

A adesão de mais mulheres ao GoRednecks foi impulsionada pela divulgação de seletivas promovidas pelo time durante o intervalo dos jogos do time masculino. O resultado do trabalho conjunto é uma equipe composta por 30 atletas, número respeitável para um esporte que ainda engatinha no Brasil.

Após duas partidas amistosas na categoria Flag, algumas meninas cogitam deixar essa modalidade e assumir a Fullpad, mas a iniciativa ainda não vingou. “Sempre chegamos à conclusão de permanecer no Flag”, revela a jogadora Duda de Paula. A wide receiver do GoRednecks explica que, por conta do alto risco de se machucar, as meninas desistem do contato da categoria principal do futebol americano: “Temos muito contato físico. Sempre estamos sem unha do pé, dedos machucados, roxos e arranhados. Aí, logo a vontade do Fullpad acaba (risos)”, completa.

 

 

Rafael Tomazeti
Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás. Fã de esportes e apaixonado pelo estado de Goiás. Trabalhou na Rádio Universitária 870 AM, TV UFG, Rádio 730/Portal 730, Jornal Diário do Estado, Diário de Goiás e Rádio BandNews.
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